5/19/2006

Assassinos entre nós


EU ACREDITO QUE HÁ DIFERENÇAS ENTRE SOLDADOS E ASSASSINOS.

Nos treze anos de que duraram a guerra colonial muitos foram os massacres perpetrados pelas forças armadas portuguesas nas ex-colónias.
Falo em massacres porque houve execuções colectivas de civis.
Não venho falar-vos de torturas nem de crimes contra a humanidade. Hoje falo-vos exclusivamente de massacres.
Pensei em dar-vos a lista completa. Mas a lista completa é demasiado extensa.

Tomei exclusivamente o ano de 1961 e escolhi Angola como exemplo.
Acho que serve bem para mostrar a barbárie.

Janeiro -- Baixa do Cassange, 85 homens, mulheres e crianças forma assassinados a fogo de metralhadora quando se manifestavam pela libertação do Agostinho Neto. Nunca ninguém procurou responsabilizar a cadeia de comando que deu a ordem de abrir fogo nem o comandante operacional. Provavelmente ainda estarão vivos e se calhar até são pensionistas da nossa democracia.

Fevereiro -- Assalto aos bairros do Prenda, do Marçal e do Sambizanga onde mais de 3000 prisões das quais resultaram cerca de 50 desaparecidos. A Policia de segurança pública de Luanda cercou os musseques e avançou fazendo prisões. Nunca ninguém procurou responsabilizar a cadeia de comando da PSP nem o responsável por tais desaparecimentos. Que provavelmente estará vivo e a receber uma pensão da nossa democracia.

Abril de 1961 -- bombardeamento com napalm da população de Mucaba com morte pelas chamas de todos os habitantes (cerca de 70)
(este crime contra a humanidade marca o inicio da utilização do napalm na guerra colonial). Quem tomou a decisão de bombardear uma aldeia perdida na floresta com Napal? Quem deu a ordem de impedir de sair todos os seus habitantes e obrigou mulheres e crianças a morrerem queimados? ? Não se sabe mas tenho a desconfiança que o responsável por tais actos deve estar bem na vida com uma pensãozinha generosa paga mensalmente pela nossa democracia

9 Agosto Nabuangongo -- mataram todos os homens, e as mulheres sofreram violações sistemáticas e ficaram presas, com as crianças, no campo de Machava.
Quem deu a ordem de matança. Quem violou mulheres e depois as matou usando a faca de mato? Quem era o responsável de comando? Quem era o comandante operacional no terreno? Provavelmente ilustres desconhecidos que hoje se passeiam impunes entre nós.

Setembro -- Massacre da população de Tomboco por uma força da Marinha --assassinados todos os homens mulheres e crianças.
A marinha depois do 25 de Abril tentou proceder a uma lista de massacre e iniciar um processo de julgamento de criminosos de guerra. A ideia acabou quando o General Ramalho Eanes, tomos o poder no 25 de Novembro


Em Junho de 1961 o Conselho de Segurança do ONU de uma resolução deplorando profundamente os massacres e demais medidas de repressão da população angolana.

A partir daqui os massacres passaram ser ocultados.

Felizmente para a memória das vítimas alguns massacres foram divulgados e ainda é possível julgar os assassinos.

PARA DIGIFICAR A MEMORIA E O CARACTER DOS SOLDADOS HÁ QUE JULGAR OS ASSASSINOS!!!!
PORQUE NEM TODOS FORAM IGUAIS.


A propósito deste tema fica o depoimentos de Armindo Soares Pinto, historiador e ex-fuzileiro capitão-de-fragata nos cenários da Guiné, de Moçambique e de Angola.
(...)Os crimes na guerra colonial portuguesa - para além do crime primordial decorrente da própria ilegitimidade da guerra e da sua ilegalidade á face da ONU - foram muitos. Crimes de deportação, esboço de crimes de genocídio, de racismo, de escravatura, de assassinato individual ou em massa. Massacres portanto. À luz das leis e regulamentos em vigor podiam e deviam ter sido punidos e desencorajados. Mas não o foram porque isso não interessava, antes pelo contrário, aos altos comandos. Estes aceitavam aquela espécie de esquizofrenia beata e sinistra. Não queriam que qualquer moralidade incómoda contribuísse para uma tomada de consciência nem para diminuição da perfomance dos militares, ainda por cima quando o Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, tinha obra feita sobre a mais vasta questão envolvente: "os indígenas são súbditos portugueses mas sem fazerem parte da Nação"; "os cruzamentos ocasionais ou familiares são fonte de perturbações graves na vida social de europeus e indígenas"; "os pretos têm de ser dirigidos e enquadrados por europeus, e olhados como elemento produtivo enquadrado ou a enquadrar numa economia dirigida por brancos". Portanto de humano só tinham a forma. Nem os navegantes de quinhentos ousaram tanto.Nas guerras coloniais a estratégia militar conta, substancialmente, com a actuação das polícias treinadas na recolha de informações através dos denunciantes pagos ou voluntários, do terror, da tortura, do assassinato exemplar, do rapto, tudo aquilo que desde a CIA, à Mossad, à Sûreté e DST, à PIDE executavam ou executam.(...)


PS - Demorei a escolher entre esta fotografia, imagem da marca do detergente que branqueia a lava a historia e um outra fotografia. Mais violenta. É a fotografia da cabeça de um homem acabada de decepar e espetada num pau. À volta da estaca homens fardados com a roupa das forças armadas portuguesas riem boçais. Apesar desta fotografia ser conhecida, nunca nenhum dos homens que seguram na cabeça foi ouvido em nenhum tribunal.
Por respeito à vitima escolhi esta imagem. É a imagem da mentira oficial do portugues que foi para a guerra fazer mulatinhos. Homem bom e cordato que até nunca fez mal a ninguem. Brandos custumes.

3 Bocas:

At 11:05 da tarde Anonymous Anónimo said...

oh...eu até queria ver a cabeça no pau...estou decepcionado...

 
At 2:07 da tarde Blogger Pifaro said...

Ó Helder Sostrova,

parece que continuas a ser um granda comuna mas desta vez tens razão.

Abraço,

Dr. Pífaro

 
At 8:39 da tarde Anonymous Anónimo said...

Olhe Dr. Pífaro... sopre lá aqui se faz favor...

Obrigado...já estou mais aliviadinho...


Aldino

 

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