73%
Só porque trabalho numa agência de comunicação me obriguei a ficar sentado a olhar para o caixote luminoso. Prós e Contras. Um programa de informação apresentado por mais uma gaja que se diz jornalista.
O tema do programa desta vez devia abordar as agências de comunicação, versus políticos versus jornalistas. Triologia de poder dinheiro e força.
A base da discussão é o livro que a Dom Quixote editou escrito pelo professor Manuel Maria Carrilho chamado Sob o signo da verdade. O livro que tive oportunidade de folhear (obrigado RM) é um texto que conta como se perdem eleições porque se apostou no cavalo errado, ou melhor na agência de comunicação errada. Fala dos lobies e das pressões a que a comunicação social vai cedendo pressionada pelas agencias de comunicação.
Assim, e por razões profissionais fiquei a ver a RTP 1.
Convidados, alem do Carrilho, eram o Pacheco Pereira, o Emídio Rangel e o Ricardo Costa.
Quatro Magníficos prometiam um bom programa.
Um debate diversificado:
Um professor catedrático que ficou famoso porque se casou com uma apresentadora de televisão que sendo podre de boa gostaria de ser inteligente. O gajo é professor de filosofia, dos melhores do país, vaidoso e com fama de ter desempenhado bem o cargo de ministro da cultura. Presença assídua na imprensa dita cor-de-rosa.
Um intelectual conservador, ex-maoista, funcionário do PSD, pau-para-toda-a-obra na comunicação social, historiador apócrifo do PC e admirador secreto do Álvaro Cunhal. Homem de regime que nunca exerceu cargos públicos mas que é um dos mais férteis comentadores aqui na praça.
Um jornalista do Lubango, histórico da rádio, dos bons, que numa altura decidiu enriquecer e inventou a televisão de informação em Portugal. Quando quis bateu com a porta e foi fazer o programa da manhã na RTP Africa por puro gozo. O jornalista que dizia que fazia o próximo presidente da república se lhe dessem orçamento para isso. E o mais grave é que é a mais completa verdade.
Mais um jornalista. Este vem de Loures. Como profissional é dos piores: maus, medíocre e fraco. Porque o irmão caga sentenças no PS lá lhe arranjaram um tachito na SIC. Quando o Balsemão começou a cortar nos salários e os bons se piraram a SIC ficou só com o refugo. Um tipo que é irmão do ministro até vai dando jeito. E assim foi: meteram o gajo como director de informação.
Uma equipe de peso. De certeza com muita roupa suja para lavar.
Esperei para ver reveladas as verdades.
Queria ver sangue. Queria ver os tipos da agências a dizer que andam a levar os jornalistas pras putas e a oferecer viagens às amantes dos chefes de redacção para terem primeiras páginas.
Queria coisas do género. Cenas com glamour. Histórias verídicas das que metem champanhe e coca e putas eslovenas.
Lamentavelmente a montanha pariu um rato.
Mas um rato grandinho.
Uma ratazana.
Do diz que disse, do é verdade e é mentira, do faço, não faço, digo não digo. São assessores, são avençados. São bons jornalistas ou são mercenários. Depois de todo um debate sem conteúdos e de desinformação, às tantas saiu um numero.
Um numero revelador.
73
73%.
Setenta e três por cento. (Por extenso tem outro impacto!!!)
Setenta e três por cento das notícias que são divulgadas pelos órgãos de informação hoje chegam às redacções através de agências de comunicação, através de assessores e através de gabinetes de imprensa.
Quer dizer que do total das notícias de um jornal ou de um telejornal, só devemos esperar ter 27% de trabalho de jornalism. O resto, 73%, é cunha, lobie, bucha ou suborno.
73% Daquilo que é difundido como noticia na realidade é gato por lebre.
Que andam a enganar a malta, já todos sabíamos, agora tão descaradamente. Até eu fiquei chocado!!!!
Aqui há uns tempos em conversa com um bom amigo jornalista, entre imperiais e cascas de tremoços o tipo dizia-me:
-- Sostrova, se em Portugal os engenheiros civis fossem tão bons como os jornalistas, todos os dias caía uma ponte!!!!
Pensei que fosse exagero, maus fígados de cerveja ou má vontade contra os colegas.
Afinal o meu amigo tinha razão.
Imaginem os produtores de vinho começarem a vender garrafas onde a percentagem de vinho fossem só uns míseros 27% e o resto fossem merdas de proveniencias várias
Pois é assim que estamos, andam a envenenar-nos.
Cáfila.
9 Bocas:
CM,
Deixa estar que BBC também é uma boa merda...deixei de ver a BBC por causa da guerra do Iraque onde a cobertura que fazem é autêntica propaganda.
Em televisão prefiro o telejornal da TV5. De resto prefiro sempre a informação francesa às formas de trabalho das notícias anglo-saxónicas.
Tal como tu, tenho o vício antigo da rádio e de ouvir noticias na rádio. Neste momento, a estação de rádio que faz um melhor trabalho informativo com um bom tratamento internacional é justamente a Rádio Europa (antiga Paris Lisboa). E faz um bom trabalho porque justamente segue os modelos franceses e bebe na imprensa francesa.
Os órgãos de informação que eram referência em Portugal já não existem.
A TSF, está completamente inquinada. É triste ouvir pessoas que até são bons profissionais e bons jornalistas de rádio fazerem aquele trabalho... As mesmas alarvidades, mesmo lugar comum repetido até à exaustão meia em meia hora.
O Público, espaço de opinião dos lobies. Caro, pouco cuidado e cada vez com menos espaço para informação e noticias. O jornalismo das vedetas e dos comentadores.
O DN estava na rua da amargura em termos de tiragens, arranjaram um director da escola do independente que lavou a cara ao jornal em termos gráficos e apimbalhou a informação.
O Expresso, está cada vez mais conservador, mais institucional e mais tendenciosamente de direita.
O que sobra é medíocre, mau ou muito mau.
NOTA ? Não falo sobre a imprensa desportiva porque não tenho conhecimentos sobre o tema. Mas pelo que oiço dizer o lobie do futebol foi quem fez a escola onde alguns políticos e jornalistas aprenderam?.
Existe uma coisa, uma organização muito discreta, que sintetiza bem o que se passa.
Uma das suas funções é fazer antecipadamente a agenda noticiosa, e programam a coisa ao ano, ao mês e à semana. Chama-se obresvatório de imprensa, embora o termo "observatório" seja uma muito livre figura de estilo.
Se o que não é noticia não aconteceu, se eles não encaixam na "agenda", não será noticia.
Atalaia, o observatório não tem qualquer poder e é pura e simplemtne academico.
Entre os consultores de comunicação e os jornalistas há forçosamente uma grande diferença. A diferença passa pelas respectivas funções que são completamente diferentes.
Um pouco de pedagogia:
O consultor de comunicação sugere estratégias, prepara acções e eventos e organiza a comunicação de uma organização ou empresa.
Um jornalista, investiga, prepara e divulga acontecimentos que são do interesse público.
O objectivo de uma agência de comunicação é optimizar os recursos do seu cliente na transmissão das suas mensagens.
O objectivo de um órgão de informação e informar e formar.
Que não haja confusão nem promiscuidade entre estas tarefas.
O que acontece, e que é grave, é que os jornalistas são muitas vezes incompetentes e demitem-se da sua responsabilidade de investigar e preparar a informação. Os directores das redacções em vez de exigirem qualidade no trabalho dos seus colaboradores estão mais interessados em mostrarem às respectivas administrações que são de confiança e não mordem na mão do dono. As administrações dos órgãos de informação são as mesmas dos grandes bancos e das grandes operadoras de comunicação?.
Há aqui de facto uma teia de interesses. De qualquer maneira a coisa não seria tão má se os jornalistas fizessem o seu trabalho com competência
Dizem que temos jornalistas bons e maus. Talvez seja verdade. De qualquer maneira os maus jornalistas são muito mais do que os bons.
A minha postura é um pouco ambígua porque não sou jornalista por um triz! Claro que existe muito mau jornalismo em Portugal e em todos os outros países do mundo. Isso também acontece na classe dos advogados, dos arquitectos e dos engenheiros. E por aí fora.
O debate foi interessante mas continuo a pensar da mesma maneira e relação àqueles 4 tipos:
carrilho - ressabiado, não soube perder, e agora arma este circo todo. tem razão só em algumas coisas.
rangel - ele é um dos culpados pelo estado do jornalismo em Pt. fez o que quis quando esteve na sic. agora é que se vem armar em santinho
p pereira - é um inteclectual de valor apesar de nem sempre concordar com as ideias dele.
r costa - não é tão mau como o descreves. dou-lhe 75% de razão na história do aperto de mão.
o tal observatório é só um mero observatório não manda nada.
de qq forma, na economia de mercado em que vivemos, este é o jornalismo que pt merece.
sostrova, acho que desta vez estás enganado. Nem parece teu.
São uma cambada de mamões.
Mas acho bem que o tipo tenha escrito o livrito; ganha umas massas, fala-se dele e vinga-se. Agora, deviam era ter feito o debate no Campo Pequeno e sem moderador...assim marravam à vontade e a malta divertia-se.
Se querem jornalismo leiam "O Crime", que sempre dá umas informações antes dos outros lhe meterem a etiqueta de "notícia".
Ver "O Código do Carrilho"
Em http://bokarras.blogspot.com
Sr Sostrova:
Fixarei o seu blog e endereço, já que, por enquanto, não lhe conheço a empresa de comunicação onde diz trabalhar. Coitada da empresa e dos seus clientes, com alguem, como vc, trabalhando lá! Alguem que define a apresentadora como uma "gaja" que se diz jornalista, definiu-se a ele próprio. A jornalista em causa é, em minha opinião, e de muita gente, de craveira intelectual e cultural superior à sua, sem dúvida, uma das melhores, mais cultas e bem preparadas da TV em Portugal. E que não fosse. Um profissiomal da comunicação?????
Bom: há uma 2ª hipotese. Diz que trabalha numa empresa de comunicação mas nao diz que faz lá! OK. Talvez seja isso. Pode ser segurança, contínuo, varredor, limpa vidros, ...pois, talvez seja isso e aí o meu comentário não terá sentido! Desculpe. Mas já agora vou tentar saber, onde e que faz lá! Não é dificil. Pelo menos para mim!
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