9/15/2006

Quem foi a Eulália Mendes?

A sua biografia é uma metáfora. Melhor que todos os livros de historia, a vida desta beirã, espelha a realidade do século XX com toda a sua miséria e grandeza.


Eulália Mendes nasceu em Gouveia em 1910. Segunda filha da relação de um operário metalúrgico e de uma domestica. A militância politica anarco-sindicalista do seu progenitor, e a pequenez do meio empurram a família para a emigração.

O casal parte em 1912, levando a filha Eulália com dois anos mais um outro filho, um rapaz um pouco mais velho.O destino original seria o Brasil, mas à última hora, por razões relacionadas com tempo de espera e razões porventura financeiras, optaram pelo barco que já estava no Tejo e partiram em direcção a Nova Iorque.

Eulália Mendes frequenta durante poucos meses a escola primária em Boston onde os seus pais se radicaram.

Aos seis anos como todas as crianças da sua condição, vê-se empregada numa das fábricas.

A indústria têxtil americana, sobretudo na costa leste, cresceu como cogumelos à custa da guerra primeira guerra mudial que devastava a Europa.
O trabalho e exploração infantil eram vistos com naturalidade pela sociedade bem pensante norte americana.

Eulália, no seu corpo franzino revela-se demasiado pequena para trabalhar nos teares. Por ser esperta e viva, torna-se ajudante administrativa.
Criança viva, depessa aprende sobre o trabalho e sobre as lutas dos homens. Entre os teares e as sirenes da fábrica a criança frágil dá lugar à mulher inteligente e combativa.

Eulália aprende.
Cedo percebe a injustiça da realidade laboral norte-americana. Cedo aprende a necessidade da luta organizada e consequente.
Com algumas noções do sindicalismo aprendidas em casa e com um dia-a-dia que não lhe permitia outra escolha, aos 18 anos vemo-la dirigir a greve das operárias têxteis de Boston.

Uma greve à séria a de 28!!!
Eulália organiza a greve. A portuguesa prepara esta importante e histórica luta em que os trabalhadores, mais concretamente as operarias têxteis, fizeram parar as fábricas pelo mais longo perodo que ha memória.
Pararam durante seis meses.
Seis meses de greve consecutiva causando milhares de dólares de prejuízo ao patronato que teve que ceder às justas aspirações das trabalhadoras. Bateram-se por salários mais justos e sobretudo pelo direito à sindicalização livre.

Em 28, a luta das operarias têxteis de Boston deve ser vista como uma bandeira vermelha desfraldada aos ventos da mudança.
Finalmente os trabalhadores juntavam-se para lutar contra o capitalismo.Esta luta colectiva deve ser vista à luz da sua conjuntura histórica: falamos do período imediatamente anterior à queda da bolsa de 29. Viviam-se os anos da superprodução. O capitalismo enquanto sistema ainda não tinha sido posto em causa no continente americano.

É no desenrolar da greve de 1928 que Eulália adere ao Partido Comunista Americano e se faz revolucionária a tempo inteiro.Nos anos 30 e 40 as responsabilidades politicas de Eulália são sobretudo ao nível da ligação entre o Partido Comunista e o movimento sindical.

Depois da segunda guerra mundial, com o Partido Comunista Americano ilegalizado e fragilizado por infiltrações e por traições, Eulália prossegue no seu trabalho e na luta.
Agora com responsabilidades mais ligadas aos movimentos pacifistas.

Em 1952, no culminar dos terríveis processos de repressão anti-comunista Eulália é expulsa desse país que era o seu há quarenta anos.

Sem família em Portugal e com o Salazar a ditar a sua ignomínia, Eulália chega a Paris onde com o apoio do PCP segue para a Roménia.
Eulália Mendes viveu em Bucareste até 2004.

A Eulália está viva no trabalho que desenvolveu e no exemplo que deixou.
A sua historia, é hoje aqui servida como um vinho caseiro para beber e partilhar com os amigos.

2 Bocas:

At 11:45 da manhã Blogger blimunda said...

não conhecia esta senhoras mas imagino que como ela existam imensas histórias por contar.

 
At 6:26 da tarde Anonymous Anónimo said...

Muito bom. Faltou uma foto de Eulalia Mendes.

 

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