Já vai sendo recorrente...
Chega-se ao fim do verão e o governo lembra-se que existimos.
E mais uma vez vem declarar que ser trabalhador por conta de outrém é ser pária,
ser utente de um serviço do estado é um luxo,
ter comida na mesa duas vezes ao dia um crime de que apenas os políticos podem ser amnistiados.
Pagamos porque nascemos, porque estudamos, porque trabalhamos, pagamos para trabalhar e pagamos o que compramos a quem nos vende e a quem págamos para ter dinheiro para fazer essas compras. Pagamos em nome da justiça social e pelo usofruto da justiça social. Se não pagamos é pior, acabamos por pagar o que devemos, o que não devemos e o que devíamos ter pago.
Até que num qualquer final de verão tudo será diferente. Dizem-nos que já pagámos o suficiente, que chegou a hora de usufruir de todos os sacrifícios. Há dois anos foi assim, lembraram-se de nós e éramos bestiais. Claro que depois houve eleições, e os bestiais elegeram o PS e o Sócrates. Foi o que bastou para voltarmos todos a ser bestas. Daqui a dois anos há mais... então, por pouco mais de um mês, voltaremos todos bestiais, pode durar pouco, mas anseio por esse mês, qual fevereiro de ano bissexto em que nos folgam as costas, enchem a barriga de goluseimas e a cabeça de vento. A única dúvida é se o tempo de um mês conseguirei arrecadar o bastante para aguentar mais quatro anos a fazer o papel de besta.
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