1/21/2005

O Barreiro claustrofóbico

Eu até não me tenho em conta de uma pessoa polémica mas imagino que esta posta vai ser muito atacada...
A criação deste blog fez com que eu reflectisse sobre a minha relação com o Barreiro. Para além daquilo que postei sobre o facto de maioritariamente me sentir ligada a essa terra "simplesmente" porque as pessoas que mais gosto viveram lá, gostava ainda de acrescentar que durante alguns anos o Barreiro me provocou uma sensação de grande clastrofobia. Acho que precisei de ter saído daí e vir para Lisboa e, depois ter dado um salto para o outro lado da fronteira, para agora ter uma relação mais saudável com o Barreiro. Porque digo sinceramente, quando era miúda e passava grande parte das férias na terrinha divertia-me muito mais lá no meio dos bichos e das hortas, e dos pinhais e dos primos/parentes todos, do que no meio dos prédios do Alto da Paiva, em que existiam sempre uns grunhos mais velhos, futuros ladrões e traficantes de droga, que me chateavam os cornos!
Quando cheguei à adolescência divertia-me como toda a gente mas progressivamente comecei a ver que ou tinha cuidado e olhava para a frente e tentava construir alguma coisa ou então iria ficar para sempre no meio dos prédios a trabalhar como caixa na Feira Nova ou empregada de mesa, coisa que não estava nada nos meus planos! Descobri que vindo da classe baixa só havia uma maneira de eu ter poder de decisão sobre o meu futuro e isso passava por estudar com o objectivo de entrar numa faculdade e estudar aquilo que me interessava. Depois logo se veria... Acho que tomei essa decisão aos 11 anos. 20 anos depois não me arrependo nada de ter sido calculista e traçado um caminho. Percebi que havia um mundo inteiro para descobrir e não me apetecia nada ficar enclausurada numa certa ideia de adolescente suburbana, com uma relação com o sexo desprendida, e um consumo cada vez mais crescente de álcool e drogas. Desse tempo só me agrada o grande apego que tinhamos à música e depois à dança. Mas, também assisti a grandes talentos desperdiçados nesta área porque simplesmente não lutaram ou não puderam lutar pelos seus sonhos. Têm todo o direito a isso, eu é que não quis isso para mim. Não fui nenhuma santa e tive a minha dose de comas alcoólicos e de experiências com que os meus pais não concordariam. Só que cheguei a um ponto em que percebi que satisfação imediata muitas vezes podia levar a uma insatisfação pessoal para o resto da minha vida!
As pessoas mais interessante do Barreiro, no meu ponto de vista, foram aquelas que cresceram ali mas tiveram sempre o desejo de sair de lá, que não pararam no espaço e no tempo.
Choca-me profundamente assistir a mortes de pessoas com quem convivi anos seguidos aos 30 anos porque não souberam parar. E não consigo acreditar que não tinham mais nada para fazer aqui...
Podem não gostar de ler estas coisas e pensar que estou a ser pedante. Provavelmente estou. Mas é o que sinto. O Barreiro para mim foi sempre muito clautrofóbico. Quase que como um beco sem saída. Adoro a fase que estou a ter na minha vida agora vivendo no Barreiro mas adoro também poder trabalhar em Lisboa e poder sair deste país para descobrir novos mundos. Porque uma pessoa no Barreiro corre o risco verdadeiramente de morrer estúpida!
Agora também digo que alguns dos meus melhores amigos são do Barreiro e alguns deles ainda vivem aí! E, em muitas coisas, só eles é que me compreendem. Porque conhecem o mesmo calão, porque foram aos mesmos sítios e conhecem as mesmas pessoas, porque crescemos todos juntos afinal...
No fundo acho que o Barreiro perdeu um carácter de libertação e de luta que já teve no passado. Estamos a viver há algunos anos um período de grande estagnação, o que chateia um bocado, sabendo nós as pessoas de sangue na guelra que aqui foram paridas!
Blimunda

4 Bocas:

At 2:08 da tarde Anonymous Anónimo said...

quando dizes que custumavas brincar com os teus primos lá na beira, estas a referir-te ao teu primo Fabrijeio? aquel que tão elogiosamente de descreveste

 
At 2:58 da tarde Blogger JM Almeida said...

Tenho alguma dificuldade em perceber a fatalidade geografica.
Quase que faz lembrar a história do rapaz que cresceu na Cova da Moura e conseguiu sair de lá vendendo biblias de porta a porta e hoje já tem o seu emprego de escriturário num mediador de seguros e até já tem um apartamento na Rinchoa.
Por mais que nos custe a admitir cada um acaba por fazer de si o que quer.
É fácil culpar o sítio onde nascemos, a família onde crescemos, as más companhias ou a falta de cooperação divina.
O difícil é sermos nós os responsáveis.
A minha homenagem vai para os que lutaram até ao fim e não chegaram lá.

 
At 3:33 da tarde Blogger Unknown said...

Falou o gajo que diz que a minhoca e o ser humano são têm 99% de semelhança!

 
At 5:12 da tarde Blogger JM Almeida said...

a questão da minhoca está descontextualizada, essa minha comparação, que continua a ofender muita gente, foi proferida, se a memória não me falha (a CM que confirme se se lembrar), no âmbito de uma discussão sobre a existência da alma e afins, mas até se aplica ao tema em questão, que eu nunca vi uma minhoca a queixar-se da vida e a deprimir porque encalhou com uma pedra.

 

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