Liberdade 4 - Fascismo 0
Eu nem sou de ligar a futebol.
Curiosamente, esta é a segunda posta que dedico a atletas da modalidade em menos de duas semanas.
Cá vai.
Ontem à noite, por entre vinho tinto e histórias velhas, o meu amigo e camarada Picos contou-me a historia de um jogador do Belenenses, o Amaro, que teria afrontado o Salazar e teria sido preso pela PIDE depois de um jogo com Espanha nos anos 30.
Hoje falei com o meu avô que tem uma idade veneravel e sendo adepto do Belenenses e anti-fascista se lembra bem da história.
Com o Picos, o meu avô e uma pequena investigação ficam aqui os factos:
A 30 de Janeiro de 1938, a selecção portuguesa de futebol joga com uma Espanha ainda em guerra civil, o jogo que não foi reconhecido pelas instâncias internacionais do futebol, foi organizado pelo regime franquista e pela propaganda salazarenta.
Por essa altura, tinha-se tornado obrigatória a saudação fascista (naquele tempo «olímpica») no alinhamento inicial.
E foi então que três jogadores do Belenenses faltaram à regra: Quaresma ficou em sentido, não erguendo sequer o braço; Simões e Amaro ergueram os punhos cerrados na a saudação comunista. Juntou-se ainda o guarda-redes Azevedo, do Sporting, que encolheu ligeiramente os dedos, curiosamente, muitos anos mais tarde, Azevedo viria a confessar que era também adepto do Belenenses… para além de vir do Barreirense, como Quaresma.
A seguir ao jogo todos eles foram detidos pela polícia política (a PVDE) para interrogatório.
Como contou Quaresma uns anos mais tarde (Record, Janeiro de 2004): «Fomos à Pide e eles ficaram. Eu, deixando o braço em baixo, disse que me esquecera de o levantar. Nunca fui político, mas embirrava com aquelas coisas do fascismo. O Barreiro era foco de comunistas opositores ao regime e eu era amigo de muitos. Mas fiz aquilo sem premeditação, foi um acto natural.»
Amaro e Simões acabaram também por ser libertados, embora fossem mais “activos” na sua contestação. Mas eram jovens, já famosos, e os bons ofícios de gente ligada ao Clube ajudaram a resolver o caso.
Fica ainda o rocambolesco da revista Stadium, que publicou uma fotografia «retocada» do alinhamento, com uns toscos dedos esticados acrescentados às mãos dos jogadores!
Para que não se esqueça!!!
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