7/17/2007

Mumia Abu Jamal e a luta de todos contra a injustiça

Segundo o relato de várias testemunhas, tudo aconteceu quando Jamal interveio para socorrer o seu jovem irmão mais novo, quando este estava a ser brutalmente espancado por um agente da polícia. Esta história veridica aconteceu em Filadélfia em finais de 1980.
Havia várias pessoas envolvidas na briga, incluindo um outro homem, não identificado, além dos dois irmãos e de dois policías. Como é habito nestas situações, houve muita confusão, gritos e disparos. Quando outro carro com mais policias chegou ao local, Jamal estava ferido e Faulkner morto.
Várias testemunhas declararam ter visto o homem não identificado fugir.
Estes foram os factos.
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Agora vamos à injustiça do sistema judicial norte-americano:
Porque Jamal é negro e tinha uma arma na mão, a polícia não teve que fazer grandes esforços de investigação, o culpado já tinha sido encontrado. Abu Jamal foi imediatamente para o hospital sob prisão.
Nenhuma perseguição ou busca foi feita pela polícia. A arma que foi encontrada com Jamal não poderia ter disparado as balas que mataram o Faulkner, apesar disso, nenhum exame de balística foi efectuado.
As testemunhas contradizem-se e desaparecem. Uma das testemunhas declarou que a polícia o ameaçou com a prisão caso testemunhasse. Outros asseguraram que a polícia os havia intimidado para que eles mudassem seu testemunho.
Para melhor fazer a cama ao Jamal escolheram como juiz para presidir o processo, Albert Sabo, já famoso como o “recordista” em número de condenações à morte. Para que não houvesse dúvidas, o juiz, imediatamente antes do julgamento declarou publicamente sua hostilidade em relação ao réu. .
A unica testemunha que acusou Jamal, Verónica Jones, depôs contra o réu mas mais tarde veio a alterar as suas declarações alegando que fora obrigada a mentir porque a policia a havia ameaçado usar contra ela antigas acusações de mau comportamento que poderiam custar-lhe a guarda dos filhos. Quando Verónica contou isso, foi imediatamente presa.
Um último promenor: o júri foi formado após a remoção de onze jurados perfeitamente qualificados, afastados pelo simples facto de serem negros
Jamal foi levado a julgamento em Junho de 1982 e condenado à morte em 3 de Julho.
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Jamal está no corredor da morte à 26 anos.
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Porquê todo este ódio contra um homem?
O carácter político do julgamento ficou explicito quando o FBI apresentou, como “prova” contra Jamal, um arquivo de mais de 600 páginas contendo um resumo de suas actividades politicas enquanto militante dos movimentos de emancipação dos negros.
No corriculum deste perigoso terrorista, está a prisão pela primeira vez, em 1968, aos 14 anos, durante uma manifestação contra o racista George Wallace, então em campanha eleitoral para a presidencia. Aos 15 anos, participou num movimento que ia no sentido de rebatizar a escola onde estudava com o nome Malcolm X e ajudou a criar o comitê do Partido dos Panteras Negras (Black Panther) em Filadélfia. Mais tarde, tornou-se membro da redação central do jornal deste movimento.
Nos anos 70, passou a fazer parte de uma lista do FBI de pessoas que “ameaçam a segurança dos Estados Unidos”, ou seja, passou a fazer parte de uma lista com os nomes daqueles que seriam imediantemente presos assim que se arranjasse motivo.
O motivo foi arranjado em 1981.
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Jornalista e autodidata, Jamal tornou-se locutor de rádios locais e de uma rede nacional de emissoras negras. Além de entrevistar gente como Bob Marley e Alex Haley, ficou conhecido através do programa “a voz dos que não têm voz”.
No seu traballho na rádio, denunciou a violência policial - em particular, a violência de natureza racista - e os dramas diários da população pobre.
Enquanto jornalista, foi várias vezes ameaçado pela policia e por políticos, como o presidente do município de Filadelfia Frank Rizzo.
Em 1994, a rede Rádio Pública Nacional contratou o prisioneiro para fazer comentários sobre a vida na prisão. Mas mesmo preso, Jamal continua a assustar muita gente no poder. O programa foi cancelado antes de começar, sob forte pressão do The New York Times, do senador Robert Dole (então, líder da maioria no Senado) e da Ordem Fraternal (que tentou, em 1995, proibir a publicação de seu livro Live from Death Row - Ao Vivo do Corredor da Morte.
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Seria impossível descrever, neste espaço, todos os detalhes da complexa e árdua batalha judicial e política que se seguiu à sentença de morte de julho de 1982.
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Para se ter uma idéia da real dimensão do caso, basta uma lista muito parcial da entidades e personalidades que já clamaram por justiça, em sua defesa de Mumia Abu Jamal:
Congresso Nacional Africano,
Anistia Internacional,
Parlamento Europeu,
Ordem Nacional dos Advogados (dos Estados Unidos),
Comissão internacional pela Abolição da Pena de Morte,
Nelson Mandela,
Jacques Derrida,
Stephen Jay Gould,
Jesse Jackson,
Danielle Mitterrand,
Salman Rushdie,
Elie Wiesel
Bono Vox
o arcebispo Desmond Tutu,
todos estes entre muitas outras persolidades.
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Exactamente por ter atingido tal dimensão, o seu julgamento tornou-se exemplar.
Caso Jamal venha a escapar à execução, o estatuto da pena de morte terá sofrido um duro golpe, e não apenas nos Estados Unidos - que representam, hoje, no quadro da ONU, o maior obstáculo político à abolição total da pena de morte em todo o mundo.
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Conhecer e divulgar a injustiça de que Jamal é vítima, é lutar contra a barbárie norte-americana e contra o seu sistema penal da xaria do dolar que o imperialismo sonha impor no mundo. Contar a história de Jamal é lutar contra a jaula dentro da qual os EUA nos quer fechar a todos.