Altoseixalinho

Isto de sermos do Altoseixalinho (assim escrito numa única palavra) tem muito que se lhe diga. É mais que ser de um determinado bairro ou freguesia. Nascidos e crescidos aqui, a ver o mundo, do cimo da colina, deu-nos a todos uma noção de perspectiva. 
Aqueles só nos conhecem de raspão até podem achar que vivemos armados em chicosespertos, que somos uns pintas ou até arrogantes...Isto porque não fechamos o bico comendo e calando quanto todos baixam a cabeça. Não é arrogância, é feitio... Temos esta mania de não nos acharmos abaixo de ninguém nem acima de qualquer um. O que às vezes é lixado...Não vamos contar os muitos dissabores... brigas em tascas, prisões na tropa, processos disciplinares, estalos na tromba e cadeiras no ar, bate-bocas com chefes, patrões, clientes e padres, despedimentos com justa causa e outros mais injustos, cegadas em gabinetes de manda-chuvas e assinaturas em tribunal...muitas idas à esquadra quase nenhuma de livre vontade.
Lá em baixo na Vila (que é como no Altoseixalinho se chama ao Barreiro), em Lisboa ou no Mundo; para lá dos Mares e para lá de Espanha, no Estrangeiro ou na Europa, quando chegamos, onde quer que seja, chegamos sempre como igual do mais fraco e ao mesmo nível do mais forte. Sem ligar para as caganças nem para choradinhos. Topamos logo os paparucos e os calimeros. Os cagadalto e os mordeplacalada. Os afilhados e os mamiferos... Em resumo: sejam eles quem forem... não papamos grupos!!!
Tudo isto politicas e clubes a parte. Porque de partidos e clubes, cada um tem o que é seu!
No Altoseixalinho, quando temos a razão no bolso das calças não sabemos voltar as costas com a razão para casa. Nem que venha o papa, que venha o obama ou que venha o cavaco dizer-nos que é mentira... Se calhar foi dos bafos da cuf que se acumulavam aqui entre o café da Pilar e o 31 de Janeiro. Se calhar é do creme das bolas de manteiga da Modera. Seja do que for, é assim e pronto!
Tudo isto, porque agora apareceram uns gajos a dizer que o Altoseixalinho, ia deixar de ser o Altoseixalinho... Que iam juntar tudo na mesma travessa.... O Altoseixalinho com a Quinta da Lomba e com a Recosta. Amizades à parte, que na Quinta da Lomba e na Recosta, há sim-senhora, muita gente boa...Mas não venham inventar...O Altoseixalinho é o Altoseixalinho e por mais papeis escritos, discursos falados e mandamentos no governo, na assembleia ou na televisão, eles não vão conseguir mudar o que é de ser mesmo!!!
Como se diz aqui no bairro, “tão-se a passar ou atão andam a fumar droga estragada!!!”

A minha opiniao sobre Cuba comeca a mudar....

Sempre defendi com toda a convicao que a melhor cerveja em Cuba e a Bucanero.
Depois de ter provado a Tinima, fabricada em Camaguey, mudei de opiniao. A Tinima e a melhor cerveja de Cuba. Tenho dito.
Agora voltem la a chamar me ortodoxo e dizer que nao consigo mudar de ideias...

A folhinha de hortela

Ha dois sitios recorrentes para almocos de negocios..
O La Roca que se paga em Chavitos , dollars convertidos, em que se come comida criola e se bebem misturas a base de run e sumos de fruta. Este e o restaurante de almocos de trabalho que a malta das embaixadas e da diplomacia cubana frequenta. Come se bem comida cubana, os empregados sao profissionais bem formados e o seu servico e eximio. No la roca uma refeicao custa a volta de 7 ou 8 euros.
Para almocos com o pessoal do ministerio da cultura, malta do cinema, do teatro e da musica ha o Arcada. No Arcada paga se em pesos, e um bocadiho mais barato que o La Roca, o servico e mais relaxado e a comida e italiana e cubana... uma refeicao custa por volta dos 5 ou 6 euros...
Hoje ao almoco no La Roca, depois de almocar e antes de se entrar nos assuntos serios que nos levou a mesa, tive que ir verter aguas... A casa de banho estava ocupada, por isso esperei um bocadinho... o bocadinho estava a ficar grande. O empregado vendo que estava ali ja ha um bom bocado, decidiu abrir a porta e deparamos com um vietnamita abracado a sanita regugitando com estrondo as duas doses de arroz com feijao que deve ter enfardado com mais de cinco litros de mujitos contados a saida...
Agora imaginem o conjunto, um oriental de fato a justificar se em vietnamita para um cubano catrafodido da vida enquanto um gajo do alto seixalinho assiste a tudo a rasquinha para mijar...interncionalismo entre os povos sobre forte pressao!!!
O empregado la se foi embora, o vietnamita la ficou a lavar as maos com a cabeca apoiada a parede e eu finalmente pude abrir a torneira... Acabada a funcao, lavei as maozinhas e voltei para a mesa...
So depois de sair do restautente reparei que tinha uma folhinha de hortela semi digerida presa ao atacador da bota...

O Bairro Chino

Habana Vieja tem um charme especial que aparece em todas as fotografias, mas para mim, o bairro que me deixa encantado e sem duvida o Bairro Chino... do outro lado do Passeo do Prado, com casas velhinhas e ruas esconsas, foi para onde vieram milhares de emigrantes chineses no principio do seculo XX. Vieram abrir mercerias, restaurantes, casas de opio e bordeis. Hoje em dia, as casas de opio serao eventualmente dificeis de encontrar...o resto esta tudo ali, saudavelmente misturado. Ontem jantei numa mercearia em que a empregada eventualmente tambem fazia o seu biscate. Depois de jantar desci para a rua e ao som de um hip hop salsero fiquei ate as duas da manha a tomar golinhos de run numa conversa animada sobre pesca com uns velhotes que apanham peixe agulha no malecon... O que nao deixa de me espantar e a quantidade de informacao que as pessoas tem. Pescadores de subsistencia com mais de 70 anos falam do cinema de Santiago Alvarez ou do Elia Kazan, com a mesma simplicidade que falam sobre o que usam para iscar ao tubarao.
A enorme comunidade de chineses que veio para La Habana,deixou de heranca, alem do Bairrio Chino, tambem os olhos rasgados nalguns cubanos. No cabelo liso e nos seios que se imaginam de dureza de diamanete de algumas mulheres de pele negra tambem se pode ver a memoria da China. As mulatas que na rua, iscam com o olhar os tubaroes das aguas frias que aqui chegam empurrados pelas mares do acaso, tambem o fazem com um estilo que se pode considerar oriental...

A recepcao na embaixada inglesa

O pessoal do ICAIC convidou me a mim e a mais malta do Festival de Cinema para uma recepcao na Embaixada Inglesa.
Explicaram me onde era.
Ao final da tarde, meti me num taxi colectivo e por menos de 20 centimos atravessei a cidade. Percorri os ultimos dois quarteiroes a pe e depressa percebi onde era o sitio...
Completamente engalanado com bofia a porta, e empregados fardados a receber os convidados... Gente do corpo diplomatico dos outros paises e malta do ministerio da cultura de Cuba todos de fato... as gajas entao compareceram completamente engalanadas de vestidos de noite...
La entrei de tenis, t shirt e calca de ganga.
Felizmente nao era o unico, a malta que como eu vinha do festival, notava se porque estavamos todos vestido de uma forma completamente informal naquela indumentaria que o meu pai classificaria como ªfeitos javardosª...
Claro que isto aproximou a malta da ganga e entre a orquesta e o bar fomos abacando numa conversa internacionalmente latina que durou ate nascer o sol.
Do cinema passamos a literatura, depois arte, politica, filosofia e religiao... Apartir das 5:30, logo a seguir ao que restava do pessoal diplomatico se eclipsar, passamos a temas realmente serios como por exemplo as diferencas entre os formatos dos rabos das senhoras de diferentes paises...
Apesar dos esforcos desenvolvidos por uma troica que envolveu representantes do Equador, da Venenzuela e de Portugal, nao conseguimos acabar com o stocke de Habana Club do Senhor Embaixador... mas a malta esforcou se, la isso ninguem pode negar!!! Hasta la vitoria siempre.

O Banho

Aqui tenho acordado cedo.
Como sou um gajo com habitos de higiene, tomo banho todas as manhas. Para isso, antes de me deitar, encho um balde de zinco com agua, as vezes falta de manha, e mal acordo, ponho o balde ao lume. Tomo o meu pequeno almoco de salcichas, ovos ananas e bolachas de agua e sal, fumo um cigarro na varanda e depois vou tomar banho com o balde e uma cafeteira de ferro...
Encho a cafeteira, despejo uma vez por cima de mim e ensaboo me.
Despejo uma segunda vez e tiro o sabao.
Com uma terceira cafeteira, encho uma bacia de plastico amarelo e vou fazer a barba para a varanda. Pelo canto do olho fico a ver passar a cidade que segue para o trabalho lentamente ao compaco da salsa.
Com a agua que sobra lavo a loica do pequeno almoco.
E um banho rustico mas cheio de qualidade de vida, nao trocava o meu banho em La Habana por nenhum jakusi do mundo.

Mais noticias

O espectaculo de danca e teatro foi impressionante. Nao so pela qualidade dos conteudos mas sobretudo pela qualidade e quantidade de publico. Estou a falar de teatro e danca numa sala que leva mil e setecentos espectadores e completamente esgotada... E acreditem que nao estava esgotada de intlectuais. Gente simples e humilde que foi ao teatro ver danca!!! so mesmo em Cuba.
Tal como nos cinemas, aqui com o Festival... ha filas de horas a porta dos cinemas porque o publico vai massivamente assistir a documentarios e producoes das ditas alternativas....
Sobre copos, comidas e diversoes varias mando uma outra posta porque como ha dois dias que nao havia internet esta uma fila de sul americanos atras de mim aos gritos a dizer que me despache em varios sotaques diferentes....

La Havana

Com exibicoes espalhadas pelos cinemas da cidade e com a casa aqui no Hotel Nacional de Cuba, este festival internacional de cinema http://www.habanafilmfestival.com/ e do mais animado que se pode imaginar. Completamente descontraido, sem intlectuais pedantes, nos jardins do hotel fala se de tudo incluindo cinema. E fazem se negocios de producao, realizacao e distribuicao. Estao ca todas as vedestas latino americanas e algumas vedestas europeias... mas estre todas as estelas que mais brilha e a cidade de La Habana que da a todo este glamour, uma atmosfera decadente.
La Havana se fosse uma mulher seria uma puta velha que se veste de lavado para ir ao encontro do primeiro namorado, seu grande amor, que conheceu escola primaria... Simultaneamente gasta e cheia de esperanca ingenua num futuro bom.
Por mim, ja tinha esquecido quanto gosto desta cidade!!!!
Ainda nao parei de namorar La Habana!
Nas ultimas 24 horas ja andei de autocarro, de taxi, de taxi clandestino e a pe.
Ja comi num restaurante do estado, na casa dos vizinhos de baixo e numa tasca clandestina.
Ja reuni num ministerio, com um produtor de cinema independente, com um encenador de comedias musicais, estive numa casa de santeria onde fiz pedidos a Xango, e tomei o pequeno almoño com o Senel Paz que me disse na proxima segunda posso assisitir a uma aula sobre guionismo com o Gabo himself que vem ate La Habana!!!
Tudo isto embalado com salsa, habanaclub e bucanaros.
Logo vou assistir a estreia de uma peca musical sobre a cultura afro cubana.
Se o meu figado resistir a tanta cultura... volto enrequecido de experiencias para portugal...

No Hotel Auditorium em Madrid

Esta viagem comecou com um imprevisto.
Em vez de estar em La Habana ainda estou em Madrid.
Como quem esta na estrada tem de aproveitar o melhor que a estrada tem, estou a preparar-me para comer o meu jantar buffet num hotel imenso e despersonalizado.
O voo que devia sair hoje às 20:45 de Barajas foi adiado e por isso a Cubana Aviasion convidou-me para ficar por aqui.
Sao 4 estrelas europeias, sem granes luxos mas completamente funcional.
Internet gratuita e rapida, salas de fumo, caixas multibanco e todo o plantel de coisas potencialmente uteis num hotel enorme que fica longe do centro.
Preferia estar a chegar à Ilha do Comandante... mas enfim... faremos o possivel por aproveitar.

www.hotelauditorium.com

Heróicos libertadores da Pátria

Correcção: Porque na posta anterior fui injusto com os democratas que acompanharam o funeral dos heróis:

Manuel Buíça, foi a enterrar no dia 11 de fevereiro de 1909, tal como Alfredo Costa e de João Sabino, (morto da luta que opôs a escolta real aos assassinos, e que mais tarde foi ilibado de qualquer participação no atentado) foram levados para o Cemitério Alto de São João. Manuel Buíça foi sepultado na 8ª secção, coval 7749. Apesar das tentativas governamentais de manter os funerais dos regicidas em segredo absoluto, o que impediu inclusive que estes recebessem qualquer tipo de cerimónia fúnebre, os mesmos foram acompanhados por cerca de 2 000 pessoas.

Após a Implantação da República, a Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento adquire terreno no Cemitério para aí erigir um monumento aos "heróicos libertadores da Pátria" (palavras constantes no requerimento apresentado à CML). O monumento, composto por dois braços, um empunhando um facho e outro correntes rebentadas, foi desmantelado durante o Estado Novo por ordem directa do Salazar, os corpos foram trasladados para outro local, dentro do Cemitério.

Apesar dos elementos do monumento se encontrarem preservados, nunca foram repostos.

A República Portuguesa deve ainda a justa homenagem as seus mártires!!!