11/15/2007

A usura, o FMI e o Irão


Por volta de 1980, as taxas internacionais de juros dispararam para 20 por cento.
O impacto devastador sobre os devedores do Terceiro Mundo foi sublinhado pelo presidente Obasanjo da Nigéria, ao falar em 2000 acerca do crescimento do fardo do seu país em relação aos credores internacionais. Obasanjo explicou o caso da Nigeria: “ Tudo o que tomámos emprestado até 1985 eram cerca de US$5 mil milhões, e até hoje já pagámos cerca de US$16 mil milhões, e ainda nos dizem que devemos cerca de US$28 mil milhões.”
O que os banqueiros chamam o "milagre" do juro composto é denominado "usura" sob a lei islâmica e é considerado um crime no Irão.

A armadilha da dívida tramada em 1980 foi preparada em 1974, quando a OPEP foi induzida a comerciar o seu petróleo apenas em dólares americanos. O preço do petróleo então quadruplicou e países com dólares insuficientes para as suas necessidades tiveram de tomá-lo emprestado junto dos bancos internacionais.
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Por volta de 2001 já bastante dinheiro havia circulado e sido devolvido dos devedores do Terceiro Mundo aos bancos do Primeiro Mundo. Na realidade, em 2001, os países do terceiro mundo haviam já pago seis vezes os seus empréstimos originais. Mas os juros haviam consumido tanto daqueles pagamentos que a dívida total havia realmente quadruplicado.

Em Dezembro de 2006 as Nações Unidas divulgaram um relatório intitulado "Distribuição mundial da riqueza familiar", o qual concluía que 50 por cento da população mundial possui apenas 1 por cento da sua riqueza, ao passo que os 10 por cento de adultos mais ricos possuem 85 por cento.

O completamente americano Professor Quigley (que foi professor do Bill Clinton na Georgetown University) foi um dos primeiros a alertar para o facto do objectivo dos banqueiros internacionais ser "criar um sistema financeiro mundial em mãos privadas capaz de dominar o sistema político de cada país e a economia do mundo como um todo", um sistema "para ser controlado de um modo feudal pelos bancos centrais do mundo a actuarem em conjunto, por acordos secretos". A chave para o êxito dos banqueiros era que controlariam e manipulariam os sistemas monetários do mundo permitindo que parecessem ser controlados pelos governos.

A maior parte dos países foi levada a este esquema de banca privada global, com a maior parte do dinheiro do mundo a ser criado pelos bancos comerciais na forma de empréstimos produtores de juros.

A alternativa a este sistema de "banco central" independente é o que costumava ser chamado "banca nacional". Um banco central de propriedade do Estado emitia a divisa nacional como um agente do governo, e o governo gastava o dinheiro ou emprestava-o à actividade económica para o desenvolvimento interno e as necessidades públicas.

Quando em 1971, o presidente Nixon retirou o dólar do padrão ouro, o dólar passou a ser a divisa de reserva do mundo sem ancoragem. Isso quis dizer que os bancos americanos podiam criar e emprestar dólares em qualquer parte do mundo sem ter o ouro correspondente ao dinheiro emprestado. Isto é, um banco pode emprestar dinheiro que não existe.
Para assegurar que a banca obtinha os seus juros, no fim da década de 1970 o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional começaram a impor "condicionalidades" sobre os empréstimos para os devedores do Terceiro Mundo, exigindo-lhes que abrissem os seus mercados de capitais, cortassem gastos com programas sociais e privatizassem as suas indústrias.

O Irão esteve entre os poucos países que escaparam a este esquema de privatização global. Isto porque o Irão sempre teve o seu próprio petróleo que administrou de forma a evitar a armadilha da desvalorização especulativa .
A indústria petrolífera estatal do Irão permitia que a sua economia funcionasse, apesar das sanções económicas e de rumores em contrário. Um movimento "reformista" a favor do aumento da privatização terminou com a eleição em 2005 do presidente Mahmoud Ahmadinejad, um "populista" que prometera redistribuir a riqueza petrolífera iraniana mais extensamente e comprometera o governo a financiar projectos do sector público e investimentos sociais.

Académicos islâmicos procuraram conceber um sistema bancário global que servisse de alternativa ao esquema baseado na usura que agora controla o mundo, e o Irão liderou o caminho para a concepção deste modelo.

Todos os bancos iranianos foram nacionalizados, e o governo intimou a banca a estabelecer um sistema bancário islâmico que substituísse o pagamento de juros pela partilha de lucros. O banco central de propriedade do Estado iraniano emite a divisa nacional, com a mais valia da especulação a beneficiar o governo ao invés dos bancos privados.

O governo iraniano está entre os poucos a terem uma dívida externa muito pequena. O Irão utiliza os seus bancos estatais para fazer com que os empréstimos e créditos fiquem disponíveis para projectos industriais e agrícolas. A característica única e mais distintiva do sistema bancário iraniano, no entanto, é que ele segue a prescrição islâmica contra a usura. Isto significa que os empréstimos são feitos sem juros.

Assumir que o Irão pode desenvolver um modelo alternativo que funciona de facto é ameaçar o sistema bancário baseado na usura que domina as finanças e o comércio do mundo.

Penso que estas questões de finanças podem ajudar a explicar a grande campanha de armamento apontado ao Irão e o endurecimento de sanções económicas contra esta economia.

A ameaça colocada pelo modelo económico alternativo do Irão só será aniquilada com uma guerra que “iraquizará” o médio oriente lançando-o de volta à Idade da Pedra.

4 Bocas:

At 5:14 da tarde Anonymous Anónimo said...

Projecto com a marca Bilderberg: Planeta subjugado a uma ditadura global imposta pela alta finança; Moedas únicas para cada continente(a Europa foi a cobaia-cfr. estamos a sentir na pele); exército único ao serviço destes interesses(nato ou onu); aumento dos meios de vigilância sobre os cidadãos através do papão do terrorismo. Dos políticos já nem falo, já que estes apenas servem quem manda e são meros testas-de-ferro e safam a sua vidinha. Prostituição global.

 
At 5:16 da tarde Blogger Helder Miguel Menor said...

Sem dúvida. Concordo absolutamente.

 
At 2:27 da tarde Anonymous Anónimo said...

Grande seca. É só testamentos pseudo-intelectuais para ver se a malta se esquece dos comunas que na câmara do Barreiro fazem as asneiras que vemos!

 
At 2:57 da tarde Anonymous Anónimo said...

...lá vem o anónimo ressabiado com os comunas na câmara. Eh pá, se isto é uma seca, vai cagar à mata e limpa o cu ás folhas!

 

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