“A viagem torna-nos menos estúpidos.” Assim falou o Jean Artur. Disse-o depois de ter percorrido meio mundo.
Dos 16 ao 19, Rimbaud escreveu poemas e modificou profundamente a literatura ocidental. Antes de fazer 20 anos, partiu para a Etiópia, perseguindo o sonho americano: ser rico. Nos dezassete anos seguintes, não parou de vaguear.
Jean Arthur Rimbaud, em 1891 com 37 anos, a sofrer de um tumor no joelho, faz-se transportar de maca, de Harar no Sudão a Zeilah no Egito. A viagem durou quinze dias. Em Zeilah, derreado, paralisado, embarca no vapor, durante três dias, para Aden, onde passa uma quinzena. Devido à gravidade do seu estado, os médicos sugerem repatriá-lo para França. Em 20 de Maio de 1891 dá entrada no Hôpital de la Conception, em Marselha. A 25 de Maio é-lhe amputada a perna direita. A 23 de Julho, Rimbaud deixa o Hospital e apanha, sózinho, o combóio para Roche. Um mês depois, o seu estado agrava-se novamente e é obrigado a voltar para Marselha.
A 10 de Novembro de 1891, às dez horas da manhã, Jean Arthur Rimbaud morre em Marselha, no Hôpital de la Conception, depois de várias semanas em semi-coma.
A 9 de Novembro de 1891, na véspera da sua morte, Rimbaud escreveu uma carta, a sua última, dirigida ao Director dos Transportes Marítimos de Marselha. A sua ideia era regressar a África, pelo Suez. As últimas palavras dessa carta:
(...) "Dizei-me a que horas devo ser transportado para bordo ..."
Contei-vos como foram os últimos dias do Jean Artur, para vos falar de uma coisa que os Fulani da Nigéria, identificam como sokugo.
O sokugo é o sortilégio que obriga um homem a viajar. Os feiticeiros Fulani produzem esta magia usando um pássaro que actuará com um encantamento e que obrigará a vitima a "seguir a sombra dos animais que voam" ficando assim condenada a vaguear para sempre.
É a doença da viagem.
Nada me satisfaz mais do que preparar a próxima partida.
O meu pai, pede sensatez . A minha mãe pede para ter cuidado. O meu filho pede presentes. Alguns amigos pedem postais.
A minha companheira pede ajuda para carregar a mochila e partilha o gene do movimento.
Talvez seja por isso que nos damos tão bem.
Como gostamos de viagens, nunca vamos de férias. Antes viajamos.
Como gostamos de viagens, seguimos sempre por estradas sem sinalização. Recusamos as fábricas de turismo. Não frequentamos resorts. Não compramos pacotes nas agências. Evitamos os hotéis grandes, as épocas altas e itinerários recomendados. Fugimos do “very tipical” e nunca contratamos guias.
Como gostamos de viagens e somos tesos, sempre que possível, ficamos na casa daqueles amigos especiais que têm paciência para nos aturar e partilham connosco o gosto pelo MUNDO.
Os kilometros não nos detêm nem o mar separa os amigos.
Numa ilha do outro lado da Europa está a CM, o Xano e o Kiko.
Também eles sofrem de sokugo. Há um ano estavam em Paris. Agora estão encalhados entre a Grécia e o Médio Oriente...
Dentro de dias vamos ter com eles, antes que o seu sokugo os obrigue a partir de novo.
Vai haver abraços, chouriço, vinho, livros, nostalgia, crianças e cães.
O que é que um homem pode pedir mais?