Só porque trabalho numa agência de comunicação me obriguei a ficar sentado a olhar para o caixote luminoso. Prós e Contras. Um programa de informação apresentado por mais uma gaja que se diz jornalista.
O tema do programa desta vez devia abordar as agências de comunicação, versus políticos versus jornalistas. Triologia de poder dinheiro e força.
A base da discussão é o livro que a Dom Quixote editou escrito pelo professor Manuel Maria Carrilho chamado
Sob o signo da verdade. O livro que tive oportunidade de folhear (obrigado RM) é um texto que conta como se perdem eleições porque se apostou no cavalo errado, ou melhor na agência de comunicação errada. Fala dos lobies e das pressões a que a comunicação social vai cedendo pressionada pelas agencias de comunicação.
Assim, e por razões profissionais fiquei a ver a RTP 1.
Convidados, alem do
Carrilho, eram o
Pacheco Pereira, o
Emídio Rangel e o
Ricardo Costa.
Quatro Magníficos prometiam um bom programa.
Um debate diversificado:
Um professor catedrático que ficou famoso porque se casou com uma apresentadora de televisão que sendo podre de boa gostaria de ser inteligente. O gajo é professor de filosofia, dos melhores do país, vaidoso e com fama de ter desempenhado bem o cargo de ministro da cultura. Presença assídua na imprensa dita cor-de-rosa.
Um intelectual conservador, ex-maoista, funcionário do PSD, pau-para-toda-a-obra na comunicação social, historiador apócrifo do PC e admirador secreto do Álvaro Cunhal. Homem de regime que nunca exerceu cargos públicos mas que é um dos mais férteis comentadores aqui na praça.
Um jornalista do Lubango, histórico da rádio, dos bons, que numa altura decidiu enriquecer e inventou a televisão de informação em Portugal. Quando quis bateu com a porta e foi fazer o programa da manhã na RTP Africa por puro gozo. O jornalista que dizia que fazia o próximo presidente da república se lhe dessem orçamento para isso. E o mais grave é que é a mais completa verdade.
Mais um jornalista. Este vem de Loures. Como profissional é dos piores: maus, medíocre e fraco. Porque o irmão caga sentenças no PS lá lhe arranjaram um tachito na SIC. Quando o Balsemão começou a cortar nos salários e os bons se piraram a SIC ficou só com o refugo. Um tipo que é irmão do ministro até vai dando jeito. E assim foi: meteram o gajo como director de informação.
Uma equipe de peso. De certeza com muita roupa suja para lavar.
Esperei para ver reveladas as verdades.
Queria ver sangue. Queria ver os tipos da agências a dizer que andam a levar os jornalistas pras putas e a oferecer viagens às amantes dos chefes de redacção para terem primeiras páginas.
Queria coisas do género. Cenas com glamour. Histórias verídicas das que metem champanhe e coca e putas eslovenas.
Lamentavelmente a montanha pariu um rato.
Mas um rato grandinho.
Uma ratazana.
Do diz que disse, do é verdade e é mentira, do faço, não faço, digo não digo. São assessores, são avençados. São bons jornalistas ou são mercenários. Depois de todo um debate sem conteúdos e de desinformação, às tantas saiu um numero.
Um numero revelador.
73
73%.
Setenta e três por cento. (Por extenso tem outro impacto!!!)
Setenta e três por cento das notícias que são divulgadas pelos órgãos de informação hoje chegam às redacções através de agências de comunicação, através de assessores e através de gabinetes de imprensa.
Quer dizer que do total das notícias de um jornal ou de um telejornal, só devemos esperar ter 27% de trabalho de jornalism. O resto,
73%, é cunha, lobie, bucha ou suborno.
73% Daquilo que é difundido como noticia na realidade é gato por lebre.
Que andam a enganar a malta, já todos sabíamos, agora tão descaradamente. Até eu fiquei chocado!!!!
Aqui há uns tempos em conversa com um bom amigo jornalista, entre imperiais e cascas de tremoços o tipo dizia-me:
-- Sostrova,
se em Portugal os engenheiros civis fossem tão bons como os jornalistas, todos os dias caía uma ponte!!!!
Pensei que fosse exagero, maus fígados de cerveja ou má vontade contra os colegas.
Afinal o meu amigo tinha razão.
Imaginem os produtores de vinho começarem a vender garrafas onde a percentagem de vinho fossem só uns míseros 27% e o resto fossem merdas de proveniencias várias
Pois é assim que estamos, andam a envenenar-nos.
Cáfila.