10/29/2007

A comunicação social e as eleições na Argentina


Para que se saiba, a senhora que ontem “ganhou” à força as eleições na argentina, não ganhou sozinha.
Vergonhosamente a comunicação social nacional, serviu de eco à campanha de propaganda dos media controlados pelos norte-americanos que desde o inicio apresentaram a senhora Cristina Kirchner como a futura presidente da Argentina.
A Argentina, em 2003 elegeu um candidato peronista, Néstor Kirchner, com ideias populistas e profundamente conservador que arrumou a casa seguindo à risca o ditado dos gringos.
Acabado o mandato, os interesses económicos que impuseram um governo de direita e conservador, decidiram eleger a digna esposa do senhor Kirchner.
Foi isso que aconteceu ontem.
A alta finança que controla os media em quase toda a América latina, segue de perto as orientação que Washiton impõe. Este facto ficou claro desde o inicio da campanha. Foi difundido pela comunicação social argentina uma campanha de desinformação generalizada em que se boicotaram todos os candidatos, excepto a senhora Kirchner.
Os media do mundo que quando se trata de temas internacionais, compram noticias sobre a America Latina à CNN, fizeram exactamente a mesma coisa. O canal de televisão norte-americano CNN, fez oito entrevistas à senhora Kirchner e não entrevistou outro candidato.Afinal de contas são os interesses dos gringos que estavam em jogo.
Em Portugal, a coisa foi parecida. As peças nos telejornais só falaram na Kirchner. Como por cá ainda compramos informação aos brasileiros não se mudou uma virgula em relação à CNN. A Globo, continua a ser um media ao serviço dos interesses dos norte-americanos no Brasil, assim, desde o inicio da campanha que o pouco que se falou, foi exclusivamente sobre a senhora Kirchner.
Por outro lado, falar na eleição de uma senhora, jovem e bem-vestida que se assume como penonista, para a presidência da Argentina, também é fazer folclore com a Eva Peron. Nos cada vez mais populistas medias portugueses, também este factor foi determinante. Falar na Evita, dá um “ar ligeiro” à chatice que é a politica internacional -- é assim que pensam muitos chefes de redacção cujo objectivo de vida é ter audiência e vender jornais.
Foi por estas razões que ontem os telejornais para falaram sobre as eleições na Argentina se limitaram a apresentar a futura-presidente.
LAMENTAVEL
Lamentável porque alem da senhora Kirchner que controla os media, havia outros 12 candidatos.
Os outros são:
à direita:
O peronista Alberto Rodríguez Saa que encarna o neoliberalismo
O economista e dirigente de direita ultraliberal Ricardo López Murphy.
Entre os candidatos da direita está também Jorge Sobisch, governador da província patagónia de Neuquén, principal fornecedora de gás para o Chile.
Outro peronista, católico e conservador, Juan Ricardo Mussa. (ANSA)
Na extrema-direita o ex-militar golpista Gustavo Breide Obeid
à esquerda:
A principal candidata da esquerda é Vilma Ripoll, enfermeira do Hospital Italiano de Buenos Aires, dirigente sindical e ex-parlamentar da cidade de Buenos Aires.
O realizador de cinema Fernando "Pino" Solanas que se apresenta como candidato a presidente e senador é apoiado pelo Partido Socialista Autêntico e Projeto Sul.
Outro candidato de esquerda é o economista Claudio Lozano, da central sindical independente CTA.
O Partido Trabalhador propõe o dirigente sindical e dos desocupados Nestor Pitrola.
O Fral (Humanismo- Partido Comunista) Luis Ammann.
O PSR-MAS da extrema esquerda, propõe José Alberto Montes
Outro sindicalista, Raúl Castells, aparece como candidato da esquerda libertária.
................................
Claro que conhecer os nomes desta gente toda e perceber o que representam, dá trabalho.
Mas é justamente este trabalho que se espera da comunicação social.
Ressuscitar a Evita, pode dar mais audiências e vender mais papel mas para os “jornalistas” que se prestam a colaborar nesta campanha de desinformação, não deixa de ser uma atestado de incompetência carimbado publicamente.
Este atestado de incompetência vai ficar ainda mais visível quando forçosamente tiverem de noticiar os movimentos populares de protesto a umas eleições que todos os candidatos à excepção da Kirchner classificam como fraudulentas.

10/23/2007

Consumidores ou cidadãos?


Consumidores ou cidadãos?
Se à partida, os dois termos não se mostram antagónicos, Benjamin Barber, um impoluto sociólogo gringo, mostra todo o antagonismo latente entre estes dois conceitos.
Muito interessante o trabalho deste senhor, que nos dá uma visão pertinente, simultaneamente económica e politica das sociedades modernas. Desde a “ética protestante” do Max Weber, que privilegia o trabalho, até à responsabilização económica do sistema que cria necessidades para poder satisfazer-las obtendo lucro, o autor desmonta e explica com exemplos concretos a organização social do capitalismo moderno.
Segundo Benjamim Barber, os cidadãos são transformados em crianças-grandes através dos esforços do marketing que apelam ao consumo emotivo sem base em reais necessidades materiais.
Os consumidores, endividam-se na expectativa de satisfazer desejos fabricados..
Falamos dos TDIs, dos SPAs, das PS2s ou das unhas de gel...
O desejo de obter estes objectos claramente desnecessários, alimenta um sistema económico baseado no consumo per si.
Este conceito de “desnecessidade” sistematizado por Barber, é o que a minha avó chama muito sabiamente “ideias ao dinheiro”
Sabemos que o capitalismo tem vindo a modificar-se radicalmente. Muitas destas mudanças implicam grandes alterações nas sociedades. Se historicamente podemos associar o capitalismo a fenómenos sociais que contribuíram para fundar modelos democráticos, Barber mostra-nos como o capitalismo de hoje infantiliza os cidadãos e abre espaço a formas ditatoriais de regime baseados no controlo social através do controlo económico do consumo.
Só tive acesso (em PDF) à edição digital francesa do “Comment le capitalisme nous infantilise”, mas vou esperar ansiosamente por uma edição em português, para comprar em papel...

10/19/2007

O NASCIMENTO DO CINEMA NA CIDADE DE SOL


A PRIMEIRA ACÇÃO CULTURAL do governo Moçambicano logo após a independência, em 1975, foi a criação do Instituto Nacional de Cinema (INC).
O novo presidente, Samora Machel, tinha especial consciência do poder da imagem e de como utilizá-la para construir uma nova nação socialista. As unidades de Cinema Móvel vão mostrar por todo o país a mais popular produção do INC, o jornal cinematográfico Kuxa Kanema.
Kuxa Kanema quer dizer o nascimento do cinema e o seu objectivo era: filmar a imagem do povo e devolvê-la ao povo.

HOJE A REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE passou a ser, simplesmente, a República de Moçambique. Da grande empresa que foi o INC não sobra quase nada. Destruído por um fogo em 1991, só restam do edifício salas e corredores abandonados onde alguns funcionários esperam pacientemente a reforma. Num anexo apodrecem, esquecidas, as imagens que são o único testemunho dos onze primeiros anos de independência, os anos da revolução socialista.

É ATRAVÉS DESTAS IMAGENS e das palavras das pessoas que as filmaram que seguimos o percurso de um ideal de país, que se desmorona, pouco a pouco, com o ideal de “um cinema para o povo” e com os sonhos das pessoas que um dia acreditaram que Moçambique seria um país diferente.

Hoje, sexta-feira às 21:OO, a JUNTA DE FREGUESIA DE SANTO ANTÓNIO, em parceria com a CÍRCULO SOLAR, vão exibir o KUXA KANEMA, na colectividade JUVENTUDE DA CIDADE DE SOL.

VALE MESMO A PENA IR VER

10/10/2007

Paris Saigão, 16.000 num 2 Cavalos


Eu não sou lá muito de recomendar nem filmes, nem musicas, nem livros... mas este é diferente:

Vou abrir uma excepção para este livraço que se lê num jorro.

No rasto das grandes viagens de automóvel, verdadeiras proezas do século xx, e dos aventureiros dos anos 70, Édouard Cortès e Jean-Baptiste Flichy decidiram empreender uma viagem entre Paris e Saigão num 2CV.

Dezasseis mil quilómetros através de quinze países. Uma viagem de seis meses que, mais do que um desafio, é sobretudo uma verdadeira epopeia: da transformação do 2CV num descapotável, nos campos da Roménia, à troca do chassi recuperando uma antigo 2CV emparedado no Afganistão, à entrada clandestina no Camboja...

Édouard e Jean-Baptiste oferecem-nos o testemunho de uma experiência autêntica, motivada pelo prazer da descoberta. Uma aventura humana e cultural, feita de encontros fascinantes — do camponês turco ao dançarino iraniano, passando por um senhor da guerra afegão. A aventura de dois amigos que partiram em demanda daquilo que poderia dar sentido à vida.

Édouard Cortès, 25 anos, é jornalista e repórter de imagem. Jean-Baptiste Flichy, 27 anos, foi coordenador logístico da expedição cultural e científica Sur les Routes de la Soie, em 2003.

É uma narrativa, moralista, católica e altamente conservadora... mas vale a pena ler e partilhar com amigos... mais que não seja para voltar a sentir os bichos carpinteiros....

Recomendável a todos aqueles para quem as estradas exercem atracão.

10/01/2007

Colombia terra sofrida


A Colômbia é o país mais perigoso para lutar pelos próprios direitos, em particular para exercer a actividade de sindicalista.
Só no ano passado, 78 sindicalistas foram assassinados na Colômbia.
A conclusão é da Confederação Internacional de Sindicatos (CIS) no seu relatório anual sobre a violação dos direitos sindicais, documento que analisa a situação em 138 países.
O secretário-geral da CIS, Guy Ryder, explica que «na Colombia, o governo da Álvaro Uribe, em lugar de empregar os seus recursos para fazer frente aos problemas laborais e melhorar a situação, gasta milhões de dólares numa campanha de repressão e esmagamento dos trabalhadores enquanto desacreditados técnicos de relações públicas importados dos estados unidas e da união europeia tentam convencer o mundo de que a situação está a melhorar".
Quando a União Europeia, a reboque dos Estados Unidos, critica duramente e tenta isolar politicamente os opositores de Uribe que na selva lutam contra a ditadura, está a contribuir para perpetuar este regime de despotismo e genocídio.
É caso para perguntar, quem são afinal os terroristas? Terrorista é quem na selva vive, luta e morre pela mudança ou serão aqueles que nos seus gabinetes climatizados se esforçam pela manutenção dos carrascos no poder?